Capítulo 9 : As Mulheres no Líbano

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Rose Marie Chahine é cidadã libanesa, professora na Universidade Libanesa de Beirute, no Departamento de Filosofia, e também no Departamento de Cinema da Faculdade de Belas Artes. Ela pertence à comunidade maronita o que ajuda a compreender as suas actividades.
A Professora Rose Marie Chahine foi membro do júri do Festival de Cinema de Beirute “Women for change” (13 a 18 de Março 2018), que teve lugar nos “Grands Cinemas” Achrafieh e Verdun.
Nesta entrevista, de 19 de Abril de 2018, Rose Marie Chahine, fala do Líbano, das mulheres libanesas e dos filmes realizados por realizadoras libanesas.

Nelly Jazra Bandarra: Rose Marie Chahine, pode começar por nos falar de si e do seu percurso académico e profissional?
Rose Marie Chahine: Estudei Psicologia e Filosofia, colaborei com organizações femininas. Na área da Psicoterapia, tive igualmente formação como mediadora conjugal e trabalhei na Associação “Família” com casais em dificuldade. E agora sou responsável de uma fundação, a Fundação Chahine, nome de família do meu marido, que é o fundador. O objectivo é formar as pessoas na arte do Cinema. Enquanto consultora de psicologia, a minha tarefa é um pouco particular: analiso as personalidades das personagens com doenças psiquiátricas ou com problemas de personalidade.
Nelly Jazra Bandarra: Quais as causas a que se dedica?
Rose Marie Chahine: Devo dizer, em primeiro lugar, que trabalhar na Universidade Libanesa é em si um compromisso. As condições de trabalho são difíceis, os professores estiveram recentemente em greve por causa das condições de trabalho e das instalações antiquadas. É terrível quando se vê as casas de banho, as mesas e os bancos partidos. E o Líbano não é um país subdesenvolvido . “Esta universidade é a imagem do país. Cada vez que há uma crise, ela, a Universidade Libanesa, sofre”.
A luta contra a violência de género é uma das causas a que me dedico: participei num programa de televisão sobre a luta das mulheres contra a violência, em colaboração com a Associação Kafa, que presta auxílio às mulheres violentadas. Nesse programa, de tipo mesa redonda, com a presença de um psicólogo, de um jurista e por vezes de um representante religioso (maronita ), as convidadas contavam as suas histórias. Os testemunhos destas mulheres permitiram pôr em destaque problemas de que ninguém queria falar.
Em 2014 foi aprovada uma lei contra a violência conjugal na sequência das lutas das organizações feministas. A lei foi aprovada depois de uma mulher ter sido morta pelo marido. Mais um assassinato, que veio a lume. A lei foi aprovada, mas houve oposição por parte das autoridades religiosas que consideravam esta questão da competência dos tribunais religiosos e não dos tribunais civis.

Nelly Jazra Bandarra: Fale-nos da conciliação conjugal.
Rose Marie Chahine: A Igreja Maronita, que dispõe do seu tribunal conjugal, criou a Associação Família. Quando os casais recorrem ao tribunal fazem-lhes a pergunta: querem-se separar? Não se tenta ver se há uma reconciliação possível. Muitas vezes considero que esta reconciliação é possível. Alguns casais querem ser ajudados. Por outro lado, no caso de separação do casal, a nossa associação “Família” tenta melhorar as relações entre os cônjuges e seus filhos, para que os filhos consigam continuar a ter uma relação de família com os dois pais, apesar da separação. Conseguimos resultados positivos. Há casais que se reconciliaram. Outros separam-se mas com condições favoráveis para os filhos.
Na Europa, há o que se chama uma “guarda alternada dos filhos”. No Líbano não existe, às vezes o pai não vê os filhos durante meses. Nós defendemos que os filhos possam contar com os dois pais, como geralmente ficam em casa da mãe, que possam ver o pai sempre que precisem.
No processo, os pais assinam um pacto de entendimento para que a separação se passe em boas condições. Depois passam pelo tribunal, para a separação, mas as duas partes têm os seus direitos preservados.

Nelly Jazra Bandarra: O que é importante para si na questão da igualdade de oportunidades?
Rose Marie Chahine: No Líbano a mulher tem mais direitos do que noutros países árabes. Mas a legislação permanece ainda muito conservadora, quando a mulher libanesa é aberta, tendo absorvido elementos de cultura europeia. A legislação, no entanto, não seguiu esta evolução. É o caso dos casamentos precoces arranjados pelas famílias. Não há uma lei que fixe a idade mínima para o casamento das raparigas. Há agora um projecto de lei para fixar esta idade aos 16 anos. Tradicionalmente a rapariga era prometida e o esposo podia dispor dela com a idade de 13 ou 14 anos. Isso acontece ainda nas aldeias, mas também em meios urbanos onde o nível de educação é mais baixo. Ora, quando a mulher é abandonada pelo esposo, não tem hipótese de ser reintegrada na sociedade, não tem formação suficiente e por consequência poucas possibilidades de encontrar trabalho.
No Líbano, o estatuto das mulheres é definido em função das diferentes comunidades religiosas , pelo que não há um estatuto unificado nacional para todas as mulheres. Consoante as comunidades, os tribunais julgam uma mesma situação de forma diferente. As pessoas são capazes de mudar de religião para ter um divórcio mais fácil ou para não pagar uma indemnização à mulher. Em geral é o marido que escolhe a situação mais favorável.
Os jovens, mas não apenas, pedem agora a instauração do casamento civil. Alguns casais tentam um casamento civil, junto das autoridades locais favoráveis, sem terem a certeza da sua validade. Muitas pessoas vão casar a Chipre ou à Grécia, pelo civil, e este casamento é reconhecido no Líbano. Em Chipre existe toda uma organização montada prestes a acolher os casais que a esta jurisdição recorrem. Às vezes fazem também um casamento religioso. Mas as mulheres devem estar cientes da “armadilha” que é o casamento religioso, porque o marido pode sempre escolher converter-se a outra religião para obter um divórcio mais favorável.
Nelly Jazra Bandarra: Como aconteceu passar da análise filosófica à análise cinematográfica?
Rose Marie Chahine: Passei da Psicologia à Filosofia, em seguida à Sociologia, quando escrevi uma tese sobre “Connaissances objectives”, e depois abordei a questão da terapia “cognitiva”.
Ensinei Psicologia aos alunos de Arte Dramática na Fundação Emile Chahine, com o tema “Do racional ao irracional” e depois aos estudantes de Arte Dramática da Universidade Libanesa. Procurei fornecer um suporte material ao programa curricular. Tem de haver um suporte material. Utilizei as artes audiovisuais como suporte das minhas análises, com elementos que necessitam de referências culturais. Assim comecei a trabalhar nesse domínio, paralelamente ao curso que dava na Universidade Libanesa.
O meu marido dava aulas sobre o Cinema. Eu comecei a escolher personagens para analisar. Por exemplo a personagem histérica de Blanche Dubois, representada por Viviane Leigh, no filme “Um elétrico chamado desejo”. Vê-se assim como é a vida de uma personagem psicótica.
Esta abordagem utilizando o cinema no domínio da psicologia é muito inovadora. Toma-se outro filme e outra personagem real como Virginia Wolf que é uma personagem bipolar e trabalha-se na sua análise; outros exemplos são Winston Churchill e a sua depressão, ou a personagem do Hitchcock.

Nelly Jazra Bandarra: Sobre o Festival “Women for change” (13 a 18 de Março de 2018)
Rose Marie Chahine: O Festival foi organizado pela Beirute Film Society. Eles convidaram-me para ser presidente do júri, o que aceitei com muito entusiasmo. Era já tempo de organizar um festival que pusesse em valor a mulher libanesa e a sua participação na sociedade. Este festival de cinema das mulheres abordou a questão do dia 8 de Março, que é o Dia Internacional da Mulher, e também ocorreu num momento da campanha eleitoral para as legislativas, marcadas para o mês de Maio (de 2018), em que um grande número de mulheres são candidatas.
Aceitei essa responsabilidade, sim. A mulher é muito importante no cinema libanês enquanto realizadora, produtora e atriz. Os filmes neste Festival “Women for Change” falam dos problemas da mulher libanesa e das mulheres árabes, mas também das mulheres de outros países, porque há filmes de muitos outros países.
No que toca a cineastas libanesas, temos 10 mulheres realizadoras conhecidas a nível internacional. Posso citar o exemplo de Jacqueline Saab radicada em Paris que roda os seus filmes no Líbano; Leila Assaf, radicada na Suécia e que aborda as problemáticas da mulher libanesa; Nadine Labaké, que vive no Líbano e cujo último filme “Capharnaüm” foi visionado e selecionado no Festival de Cannes; Randa Chahal, já falecida, ganhou um prémio no Festival de Veneza; Danielle Arbib; Lara Saba; Dima el Horr. Todas elas trabalharam sobre questões ligadas à mulher libanesa. Algumas vivem fora do Líbano, outras aqui mesmo.
Nelly Jazra Bandarra: Na Europa e na Bélgica esses filmes pouco passam. Talvez no Festival do Cinema Mediterrânico e no Festival do Cinema Árabe, em Bruxelas. A realizadora mais conhecida é Nadine Labaki, cujos filmes passaram em salas de cinema com vastas audiências, como “Caramel”, “Et maintenant où on va?”.
Rose Marie Chahine: Alguns exemplos das temáticas dos filmes libaneses e estrangeiros deste Festival “Women for change”: uma jovem universitária que estuda em Paris e que se vê confrontada com vários problemas. O filme chama-se “La Parisienne”, de Danielle Arbid. Obteve o primeiro prémio do filme de longa metragem do Festival. Outra temática é o problema do casamento precoce, abordado no filme “Nour”, uma rapariga, criança, ainda a brincar, cuja mãe vem dizer-lhe que já tem um marido. Ou então o problema duma jovem emigrante de segunda geração que decide voltar à aldeia dos pais, e instalar-se na casa familiar abandonada: é o bonito filme “Go home”, de Jihane Chouaib. O problema duma jovem mulher que tem a cargo toda a família, porque são doentes ou não querem trabalhar, o filme conta como ela é explorada pela família. O tema é retomado no excelente filme croata intitulado “Ne pique pas dans mon assiette”, do realizador Hannah Judic. O filme marroquino “Insoumise” aborda o tema da exploração da mulher no trabalho. Cada filme deste Festival suscita um ou mais problemas das mulheres libanesas e árabes, e tudo está relacionado com tudo. /?/?/ está tudo interligado.

Nelly Jazra Bandarra: Haverá diferença entre a situação das mulheres libanesas e a situação das mulheres de outros países árabes?
Rose Marie Chahine: Os problemas são os mesmos, mas vividos de maneira diferente. A mulher libanesa, como já disse, é moderna, viaja, tem acesso a muitas coisas, ainda que não tenha muitos recursos. Mas a legislação é muito conservadora. Há também problemas económicos. Por exemplo, os salários das mulheres são bastante mais baixos do que os dos homens. É por isso que certas sociedades favorecem o emprego das mulheres porque assim têm muitos menos custos salariais. Mas não são postos de futuro. Os empregadores também economizam nas compensações e indemnizações, porque pensam que as mulheres não vão trabalhar até à idade da reforma. Há muita exploração laboral e a mulher é vítima.
Ainda há os problemas das pessoas idosas, na sua maioria mulheres, cujas famílias não as podem ter a seu cargo. As pensões são muito baixas ou não existem. Há também os casos de mulheres portadoras de deficiência ou com doenças graves.
Uma mulher funcionária pública pode inscrever o marido e os filhos na Segurança Social. Nos sectores privados a mulher não tem esse direito, mesmo quando faz o mesmo trabalho que no sector público. Há também as doenças de natureza psicológica ou psiquiátrica, cujo tratamento é muito caro e não é reembolsado pela segurança social.
Os problemas das pessoas com deficiência são abordados no filme “Zyara”, de Murielle Aboulrous, uma jovem realizadora libanesa que fez um trabalho admirável. Nas suas entrevistas, Murielle apresenta os casos de mulheres doentes e com deficiências físicas e mentais. O filme está a provocar um movimento de tomada de consciência no público. Muitas pessoas portadoras de deficiência identificaram-se com aqueles casos. A realizadora é agora contactada não só por associações de mulheres que querem apresentar os seus testemunhos, a fim de insistir sobre este problema junto dos poderes públicos, como também por pessoas que querem simplesmente exprimir a sua solidariedade.
Falando do filme que foi apresentado na abertura do Festival “Women for change”, é o filme egípcio “A day for women”, com a presença da atriz principal, Elham Chahine, assim como da realizadora Kamla Abou Zekri. Trata-se de um filme admirável onde se vê como as mulheres podem ser solidárias. “Um dia na piscina” é a consagração de um dia por semana para a mulheres de um bairro pobre da cidade do Cairo. É um bom filme, mas tem um aspecto um pouco caricatural, um pouco à maneira egípcia, que utiliza a caricatura para veicular a mensagem. Elham Chahine não é somente actriz, é também militante, conhecida, por ter trabalhado muito em prol da igualdade das mulheres no Egipto. Foi muitas vezes criticada, mas continua a batalhar por essa causa. Naquele filme, ela reivindica o direito das mulheres egípcias a terem os mesmos privilégios que os homens. Não há razão nenhuma que justifique que só os homens possam usufruir de serviços sociais. No filme, por exemplo, as mulheres fazem as suas reivindicações, organizam-se, revoltam-se e conseguem que a piscina seja acessível só para as mulheres durante um dia por semana. Com uma simples mudança opera-se uma mudança radical nas suas vidas e na vida do bairro.

Nelly Jazra Bandarra: Falemos agora das mulheres nas eleições de Maio de 2018
Rose Marie Chahine: A elevada instrução das libanesas, a sua capacidade de falar línguas estrangeiras, a sua abertura cultural (explicada também pela posição geográfica do Líbano, face ao Mar Mediterrâneo) encorajou a sociedade a ultrapassar certos tabus e a fazer evoluir os aspectos tradicionais mais rapidamente do que noutros países árabes. Mas as leis estão sempre em atraso e contamos com as eleições para fazer avançar as coisas, porque agora temos apenas quatro mulheres no Parlamento libanês. Depois das eleições de Maio próximo, esperamos ter muitas mais mulheres. Houve 105 mulheres candidatas, um quinto das candidaturas, mas não foram incluídas em listas eleitorais e o seu número caiu para 84. No Líbano, cada eleitor escolhe uma lista e também escolhe um candidato prioritário. Por isso o número de mulheres caiu. As listas que têm a possibilidade de ganhar são presididas por políticos bem implantados e que muitas vezes não têm mulheres nas suas listas. Então as mulheres têm poucas oportunidades de se apresentarem. Algumas listas integraram de facto mulheres. Durante o Festival “Women for Change” pedimos a uma candidata que viesse dar uma conferência sobre este tema para sensibilizar para o acto eleitoral. Esta pessoa conta com apoio e tem chances de vir a ser eleita.
Mas por exemplo na região do Akkar (Norte do país) não havia mulheres incluídas nas listas. Então 5 mulheres criaram a sua própria lista. As outras listas tinham 8 pessoas. Elas têm poucas possibilidades de ganhar, mas têm de continuar até ao fim e espero que o façam.
Nelly Jazra Bandarra: Há muitas mulheres eleitoras? Elas votam?
Rose Marie Chahine: As mulheres são eleitoras e vão votar. A abstenção não é por parte das mulheres, elas estão mobilizadas. A reacção do eleitorado em geral é a favor das candidaturas femininas, certamente nos meios intelectuais, mas não só. Muitos jovens e casais novos vão trabalhar para o estrangeiro. Eles são demasiado qualificados para encontrarem trabalho no Líbano. No estrangeiro, obtêm bons empregos. As pessoas consideram – é uma ideia que circula – que se houver um número suficiente de mulheres, elas vão fazer as reformas do mercado do trabalho e da segurança social para evitar a emigração dos jovens.
No Líbano, quase todos os casais que têm à volta dos cinquenta anos, têm os filhos que emigraram e têm postos de trabalho importantes em grandes sociedades estrangeiras. Isso é muito triste: pensar que eles vão envelhecer sozinhos, longe dos filhos e que os filhos não vão voltar.
As mulheres que estão em listas fortes (quer dizer, com um político proeminente a presidir a lista), têm uma hipótese de ganhar, mas não as outras que estão em listas só de mulheres ou em listas de partidos mais fracos. Se não tivesse havido mudança da lei eleitoral, as mulheres tinham tido mais oportunidades, porque se podiam escolher candidatas mulheres noutras listas e acrescentá-las à lista escolhida. Agora com a nova lei eleitoral, não é possível. Houve pessoas a darem explicações aos eleitores sobre a maneira de votar com a nova lei, porque não se pode barrar nomes, senão o boletim fica nulo. Elas explicaram que não se podia fazer como antes. Em tais condições é difícil prever os resultados para as mulheres.
Nelly Jazra Bandarra: E a igualdade entre homens e mulheres nos programas eleitorais?
Rose Marie Chahine: Muitos dos candidatos querem a igualdade, mas a maior parte deles falam mais de outros problemas: o meio ambiente, sobretudo o problema do lixo que é uma questão gravíssima no Líbano, o saneamento, a poluição a emigração o problema das famílias. Além disso, há também os problemas económicos.
Nelly Jazra Bandarra: Segundo ouvi, os políticos nos seus discursos não falam muito das mulheres. Por outro lado, achei muito cruel que as mulheres tivessem sido excluídas como potenciais candidatas. O que fora previsto por eles no início, não foi respeitado.
Na minha opinião eles estão voltados para outras problemáticas que atraem mais o eleitorado. As mulheres candidatas foram dispersas nas listas. Não tenho elementos suficientes para saber exatamente quantas mulheres ficaram. Procurei bastante, mas não consegui resultados.

Nelly Jazra Bandarra: E as quotas?
Rose Marie Chahine: O Conselho das Mulheres Libanesas pediu, antes das eleições, que os partidos políticos introduzissem quotas (30%), mas isso não foi aceite, e não houve nenhuma decisão das autoridades públicas. Terá de se ver, depois das eleições, se alguma proposta vai ser apresentada. A meu ver, as quotas seriam uma boa solução. Por exemplo, fixar um número de lugares no Parlamento para as mulheres. O que é triste é a estrutura confessional. Há lugares repartidos por comunidades religiosas: tanto para os maronitas, tanto para os greco-ortodoxos, tanto para os sunitas, tanto para os xiitas …, mas nada para as mulheres.
Nas listas de mulheres, por exemplo : se faltar uma mulher da comunidade greco-ortodoxa numa lista, nenhuma mulher de outra confissão pode ir substituir a que falta. Para as eleições, havia uma lista eleitoral de 5 mulheres, mas faltava uma candidata da comunidade alauita e outra da comunidade ortodoxa, e os lugares não foram preenchidos.
As mulheres denunciaram a atitude machista e tradicional de colocar os homens politicamente fortes e de afastar as mulheres.
O problema do Líbano é a sobreposição das identidades política e a religiosa. Nas eleições o carácter confessional sobrepõe-se ao carácter nacional. Acho que devemos trabalhar para o nosso país, não para a nossa religião.
Nelly Jazra Bandarra: As perspectivas de futuro…
Rose Marie Chahine: Tem de se dar à mulher a possibilidade de participar no destino do país. Houve muitos abusos na política. Há quem diga que as mulheres estão mais centradas no bem público do que nos seus próprios interesses. É evidente que há políticos honestos, mas há muitos escândalos e muito desleixo.
O que se faz de bom é a maior parte das vezes feito pela iniciativa das pessoas, por iniciativa privada.
O Estado tem de assumir mais compromissos, sobretudo porque a maior parte das pessoas não dispõem de capitais privados. Tem de haver um Estado que dê prioridade ao interesse público.
Pela minha parte, espero que as mulheres estejam mais conscientes e participem mais, apesar de sabermos que no Líbano a política é muito complicada. Devemos trabalhar por um Líbano melhor.
As mulheres libanesas têm de dar o exemplo aos outros países árabes, porque apesar de tudo, a sua situação é melhor em termos de igualdade, e houve uma evolução mais positiva.

NB: As eleições legislativas no Líbano tiveram lugar no dia 6 de Maio de 2018 e somente 6 mulheres foram eleitas, mais duas do que na legislatura anterior, o que constitui um resultado decepcionante à luz do esforço brutal desenvolvido por todas as mulheres candidatas e seus apoiantes. Elas representam 4,68 % dos deputados (128 deputados no total). Entre as novas deputadas, uma é irmã do antigo Primeiro-Ministro Hariri (Bahia Hariri) e a outra é casada com um político (Setrida Geagea). As outras quatro são Paulette Yacoubian, (uma mulher de grande qualidade e que merece apoio), Dima Jamali, Rola Tabch Jaroudi, Inaya Ezzedine. Um resultado decepcionante comparado com o esforço brutal fornecido por todas as mulheres candidatas e seus pelos apoiantes.

Notas
i A igreja Maronita de Antioquia é uma igreja católica, de rito oriental, em plena comunhão com a Sé Apostólica, ou seja, reconhece a autoridade do Papa, o Sumo Pontífice da Igreja Católica. A sua origem remonta à comunidade fundada por Maron, um monge siríaco-arameu do século IV venerado como santo. O primeiro patriarca maronita, São João Marun, foi eleito no final do século VII.
Embora em número relativamente reduzido hoje em dia, os Maronitas ainda são um dos principais grupos etnorreligiosos no Líbano. A Igreja Maronita afirma que, desde o começo, foi sempre fiel à Santa Sé e ao Papa.[2] Esta comunhão total foi reafirmada em 1182. (Wikipedia)

A Professora Rose Marie Chahine considera o país como sendo desenvolvido. De facto, há contradições porque por um lado temos aspectos que mostram um país bastante avançado (fala-se por exemplo da Medicina onde se fazem transplantes ou operações complicadas, das novas tecnologias…) e por outro há populações pobres e regiões desertificadas, sem esquecermos os dois milhões de refugiados sírios.

Existem 17 comunidades ou confissões religiosas e cada uma tem o seu estatuto próprio no que toca à aplicação das leis que regem a vida das pessoas tal como o casamento, o divórcio, a filiação…

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